Ford e a Arte da Destruição: desmanche das indústrias pesada, naval, petrolífera e de automóveis
João Costa
A montadora Ford está no Brasil há quase um século, há menos de 20 anos fez investimentos de R$ 4 bilhões em suas plataformas no país, as plantas da Bahia e do ABC paulista não são sucateadas e este gigante do automobilismo que era um símbolo do desenvolvimento industrial do país, também é dos seus erros e equívocos.
Imagem: linha de montagem da empresa em Camaçari-BA

Nesta década pandêmica do século 20 resultaram fracassadas a visão e os planos de desenvolvimento sobre rodas que militares, governos e economistas tinham para o Brasil nos anos 1950. Nenhum outro país trocou plataformas de desenvolvimento sobre trilhos, transportes marítimos por estradas. O Brasil foi o único.
Só para citar o exemplo da Paraíba, o regime militar e os que vieram depois dele, destruíram o sistema ferroviário, que cobria o estado de Cabedelo a Cajazeiras e parte do Brejo nos anos 60/70.
Em menos de 100 anos, depois de gozar efêmeros momentos de desenvolvimento sustentado com mercado interno pujante, o país assiste sua desindustrialização em processo acelerado porque planejado.
O Brasil afunda pela deliberada opção da burguesia nacional pelo sistema financeiro e não produtivo, por descaso proposital em sua educação, pela falta de compromisso do estamento militar; avanço terrível do fundamentalismo religioso e demência do povo.
O país aprimora sua vocação para o atraso. Por conta de sucessivos governos que adotaram reformas que empobrecem a população, eliminam o mercado interno e do ponto de vista fiscal e econômico insistem em subsídios inúteis e criminosos. Olhem para o Distrito Industrial de João Pessoa como retrato.
O discurso para o fracasso da indústria em geral é falacioso. A cantilena é a mesma: custo Brasil, alta do dólar, reestruturação global, eletrificação futura dos automóveis, digitalização da economia e pandemia.
São meias-verdades. Há cinco anos que a Ford canta a bola que vai se mandar do Brasil, mesmo tendo captado R$ 300 milhões em empréstimos no BNDES. Há exatos cinco anos o Brasil mergulhou numa crise que ainda não terminou e está longe de terminar, porque a destruição completa da Nação ainda não se concretizou.
Discurso do descrédito de uma Nação
“O Brasil está quebrado e eu não posso fazer nada”, foi a mensagem dada ao mundo recentemente.
O governador da Bahia, Rui Costa convidou diplomatas da China (sempre a China) , Japão e Coreia do Sul para conhecerem o Complexo de Camaçari, onde será fechada uma das fábricas (plana e nova) da Ford. Num esforço em meio ao debacle geral.
A Ford trocará o Brasil pela Argentina e Uruguai. Levam suas plantas, projetos e máquinas, mas não levam seus operários. Na Bahia vão ficar para trás dez mil deles. Quantos no ABC Paulista e em Minas Gerais?
Estaria Salvador capacitada para receber dez mil trabalhadores informais?
O cenário que ficará para trás é de cidades mortas ocupadas por trabalhadores desempregados. Que nem vão precisar abraçar o fascismo como tábua de salvação, porque o fascismo nos governa e controla o regime e suas instituições militares, judiciais e de mídia.
Nas redes sociais, segue o mimimi: “Eles diziam que, se a esquerda ganhasse as eleições na Argentina, o povo portenho fugiria para Brasil. Ao contrário: receberam a Ford de presente”; “a lava Jato destruiu a indústria pesada, naval e petrolífera”.
A Arte da Destruição viceja sem nenhuma reação do Congresso, dos trabalhadores ou de qualquer segmento daquilo que teimamos em chamar de Nação.
Imagens: Radar e site marcabaianoar