Juriti: surrado pela Volante a caminho da escola, garoto ingressa no cangaço pedindo vingança
O primeiro cangaceiro de nome Juriti, foi um bandoleiro boa pinta, jovem estudante de família estruturada economicamente; média alta, natural do município de Venturosa(PE), que enveredou pelo mundo do crime por questão honra pessoal, segundo relato do pesquisador do fenômeno cangaço, José Alves Sobrinho. É descrito como tipo europeu que, mesmo na zona rural e vivendo em meio ao analfabetismo brutal, iniciou cedo seus estudos com um destino traçado pelos pais: formar-se em Medicina ou Direito.
Imagem: Luiz de Cazuza, conteporâneo e amigo da família Ferreira,

Mas os sonhos desse jovem adolescente, denominado por alguns como João Soares, foi interrompido brutalmente. Corria o ano da graça de 1922, mês de setembro, a caminho da escola rural, deparou-se com uma volante, entre Venturosa e Arcorverde. A polícia estava seguindo rastros do bando de Lampião que retornava do Ceará; o cabecilha da volante (não tem seu nome definido) é descrito como oficial negro, procedente do Recife, exibia um relho de couro cru que, segundo ele mesmo, fazia parte da sua estratégia de intimidação.
- É para dar umas lapadas no lombo de Lampião, antes de prendê-lo e levá-lo para cadeia, em Recife. Avisava por onde passava.
O encontro de Juriti com a volante foi desesperador para o jovem estudante do ensino médio.
- E você, para onde vai com esse caderno na mão?
Respondeu Juriti:
- Para a escola estudar pra ser doutor, foi a resposta ingênua, que soou aos ouvidos do chefe da volante como provocação.
É... O menino vai ser doutor! Pois muito bem vou lhe dar umas lapadas para esquentar suas orelhas e deixar você mais inteligente na hora de assistir aulas.
Em seguida o chefe da volante desferiu duas chicotadas no garoto. Não espancou mais porque foi interrompido por um dos soldados.
- A continuar nessa pisada, seu sargento, o senhor vai se dar muito mal aqui no Sertão. O rapaz nada fez por merecer apanhar desse jeito, advertiu o soldado.

Serra Vermelha, lugar icônico para história do cangaço, tornou-se fortaleza para Lampião nos combates com Volantes
Esse relato sobre a surra foi feito pelo próprio Juriti a Virgulino Ferreira e a Luiz de Cazuza, em 1923, que ficou surpreso com a presença de um garoto no bando.
-O que é que esse menino faz junto a vocês que nem pode sustentar esse fuzil nas costas? Indagou Cazuza a Virgulino, durante breve encontro na Fazenda Pedreira.
-Está comigo para vingar uma surra que levou de um sargento, justificou Lampião.
Mas a lei do retorno estava próxima de se cumprir. Logo após ser aceito no bando por Lampião, um entrevero aconteceu: essa mesma volante caiu em uma emboscada do bando.
Nos primeiros disparos, cinco soldados tombaram, em face à inexperiência de combate em guerra de guerrilha. O referido sargento e o resto da força debandaram sem disparar um só tiro, perdendo assim Juriti a esperança e a oportunidade de vingar a surra que levara, nos quatro anos de vida no cangaço.

Lampião(E) e o cangaceiro Juriti II, que sobreviveu a Angico; foi preso depois de anistiado e queimado vivo por Daluz
Esse primeiro Juriti teve vida curta no cangaço, tombou no combate na fazenda Xique-Xique, ao lado dos cangaceiros Jurema e Morcego. Os nazarenos sofreram uma baixa: Idelfonso Flor, de apenas 16 anos.
O segundo cangaceiro de alcunha Juriti, chamava-se Manoel Pereira de Azevedo, oriundo da vila Salgado do Melão, foi mais famoso por conta da sua crueldade, escapou do cerco de Angico, entregou-se, recebeu anistia e morreu queimado vivo pelo sargento Amâncio Ferreira da Silva, “Deluz”, ao retornar para áreas do Sertão onde atuara como cangaceiro.
Fonte: Narrativa extraída de “Lampião, Antônio Ferreira e Livino – A Parceria e o Cangaço”, de José Alves Sobrinho.
Imagens: 1. Luiz de Cazuzua, extraída de Educar com Cordel. 2. Serra Vermelha, extraída de Lampião Aceso. 3. Foto de Benjamim Abraão, com aplicação de filtro.